segunda-feira, 25 de abril de 2011

História dos Mártires - Parte Final

Religião - RN


Locais sagrados

Memória histórica desapareceu de Cunhaú e Uruaçu, mas a fé dos mártires já começou a atrair devotos



Três séculos e meios separam a atual comunidade de Cunhaú dos dias de horrores devido a presença de índios bravios e invasores holandeses sob o comando do alemão Jacob Rabbí. Em 1634, quando os holandeses chegaram, Cunháu era o maior engenho em produção na capitania do Rio Grande. Pertencia a Antônio Albuquerque Maranhão.


O local que foi palco do martírio já não está intacto. A capela passou por várias reformas e, do tempo do morticínio, restam apenas os pilares da pequena Igreja. O engenho também está desativado. A população também diminuiu. Hoje, os moradores da fazenda Cunhaú se dedicam ao gado e a agricultura, plantam feijão e jerimum. No total, são oito famílias, cerca de 30 pessoas, que residem no antigo engenho.



A rotina pacata destes moradores muda aos domingos, quando às 10h é celebrada a missa na capela de Nossa Senhora das Candeias. Fiéis de Natal e do interior vão assistir a celebração. O administrador da fazenda, Ademar Rodrigues, confirma o grande movimento de peregrinos para a capelinha.


Diferente dos pontos já famosos de romarias, em outros estados brasileiros, em Cunhaú o comércio de lembrancinhas dos mártires ainda não se instalou nem despertou maiores interesses entre os moradores. Maria Barbosa Soares, que há três anos mora na fazenda, vende o livro "Terra de Mártires", escrito por Auricéia Antunes. A casa onde ela reside é em frente a capela e a senhora destaca que diariamente reza pelos mártires de Cunhaú.


Salvina Barbosa, que mora em São Bento do Norte, é sogra de Socorro e semana passada visitou a fazenda. "Rezo muito pela beatificação. Estes mártires marcaram a Igreja", comenta a senhora, enquanto varria a calçada da capela. Alguns dos moradores nem sabem direito como se deu o martírio.O pedreiro Marciano Barbosa Soares desconhece os detalhes históricos, mas se confessa devoto e admirador dos futuros beatos.


Dúvidas históricas


O local exato do segundo massacre de colonos no Rio Grande do Norte, o antigo porto de Uruaçu, ainda é uma incognita e motivo de controvérsias entre pesquisadores e historiadores. A dificuldade está no fato de que Uruaçu não tinha propriamente um local de moradia, como em Cunhaú. Era apenas um porto às margens do rio Potengi-Jundiaí, para quem ia ao engenho Potengi.


Pesquisas mais recentes localizam a área do massacre dentro da fazenda Carnaubinha, município de Macaíba. Se estiver correto, o local continua sendo o descampado que era no século XV.


As atividades da fazenda Carnaubinha, onde está o Marco do Martírio, estão restritas a cerâmica e a criação de gado. A lavoura aparece apenas no período de chuvas. O único fato que lembra o martírio é um cruzeiro, para onde, no ano passado, foi feita uma grande peregrinação. As marcas de velas no chão mostram que os fiéis continuam visitando o cruzeiro.


Os próprios moradores da fazenda são devotos dos futuros beatos brasileiros. Anália Firne de Melo, 70 anos, reside na fazenda há mais de 20 anos. Diariamente ela caminha por 30 minutos para ir ao cruzeiro. O ritual é sempre o mesmo: ajoelha e começa a rezar com o terço na mão. Nas orações, ela dirige o pedido aos mártires para lhe conceder muita saúde.


Anália faz questão de destacar que já alcançou algumas graças com a ajuda dos futuros bem aventurados brasileiros, mas não entra em detalhes A admiração desta devota pelos mártires fica a mostra para qualquer pessoa. "Rezo durante uma hora", faz questão de ressaltar. As orações são feitas na companhia de outras duas pessoas.


Josefa Guilherme da Conceição, 30 anos, mora na fazenda Carnaubinha, bem próxima do cruzeiro. Ela confirma que muitas pessoas do interior do Estado vão ao local do martírio de Uruaçu.


Além de presenciar o movimento em torno do cruzeiro, Josefa é uma devota dos mártires. Ela diz que alcançou a graça de ter feito uma cirurgia sem qualquer complicação. "Tenho muita fé neles", afirma, apontando para o local do cruzeiro.


Anchieta foi o primeiro



O Brasil demorou a ter beatos reconhecidos pela Igreja, mas a lista já inclui vários outros nomes de religiosos



As beatificações no Brasil começaram com o padre José de Anchieta, declarado bem aventurado no dia 22 de junho de 1981. Este sacerdote teve um trabalho de grande destaque na doutrinação dos índios. "Com eles eu me dou melhor do que com os portugueses", dizia padre Anchieta. Para se comunicar com os nativos, ele aprendeu a língua tupi.


Padre Anchieta nasceu em La Laguna, nas Ilhas Canárias, em 19 de março de 1534, Vinte anos depois desembarcou no Brasil. Aos 25 anos foi nomeado reitor do Colégio de São Vicente, na capitania do mesmo nome. Participou ainda da fundação da cidade do Rio de Janeiro e do hospital da Misericórdia, em São Paulo. Foi também padre Anchieta que atuou na aliança com os índios para a expulsão dos calvinistas franceses do Rio de Janeiro.


O serviço deste religioso poderia ter sido dividido no trabalho com os missionários e o de educador. Para este último, ele escreveu "A arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil". E ainda fez algumas peças como "Ao Santíssimo Sacramento". Padre Anchieta morreu no dia 9 de junho, na cidade de Reritiba, hoje chamada Anchieta, no Espírito Santo.


MADRE - Na última vez que o papa João Paulo II veio ao Brasil, em 1991, ele celebrou a missa de beatificação de madre Paulina. Esta italiana, da cidade de Vigolo Vattaro, nasceu no dia 16 de dezembro de 1865. Junto com os pais e os quatro irmão, veio como imigrante para o Brasil, onde chegou em 1875.


Com 25 anos, madre Paulina deixou a casa da família para cuidar dos cancerosos. Começava aí a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Em dezembro de 1845, ela fez os votos de religiosa e passou a se chamar irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Seu trabalho era dirigido aos excluídos, em especial aos menores abandonados.


Em 1938, madre Paulina perde a mão direita, devido a um problema de diabet. Depois ficou sem o braço direito. Quando morreu, em junho de 1942, ela cega. A madre deixou o exemplo de oração e trabalho na comunidade católica.


BRASILEIRO - O caso mais recente de beatificação foi do frei Galvão, que aconteceu no dia 26 de outubro de 1998. Este religioso foi o primeiro beato brasileiro. Antônio Santana Galvão, como era chamado antes de ingressar na vida religiosa, morreu em 1822, com 83 anos de idade. A ele foi atribuído o milagre da estudante Daniela Silva, 14 anos. Ela foi curada de uma hepatite aguda quando tinha 4 anos de vida.


O trabalho de frei Galvão foi exclusivo aos aflitos e escravos. "Ele se dedicou com amor e devotamento aos aflitos e aos escravos de sua época no Brasil", ratificou o papa João Paulo II, na homilia da beatificação. Ele lembrou ainda a fé franciscana e evangelicamente vivida pelo religioso.


DULCE - É provável que, depois dos mártires de Cunhaú e Uruaçu, a próxima beata brasileira seja irmã Dulce. O arcebispo de Salvador Geraldo Majella Agnelo já instalou o tribunal eclesiástico para investigar dois milagres atribuídos a religiosa, entre eles uma cura de câncer.


Irmã Dulce dedicou mais de 50 anos da sua vida para o trabalho com os pobres. A obra social é reconhecida internacionalmente. O hospital Santo Antônio, fundado por ela, atende mais de mil pacientes, diariamente. O orfanato na cidade de Simões Filho foi outra criação da freira.


Junto com esta religiosa, a arquidiocese de Salvador também vai investigar a irmã Lindaura, que foi assassinada com 48 facadas por um interno do Abrigo Dom Pedro II. A intenção é que ela seja declarada mártir.


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